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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2019

11 de Xullo

Querido Diário: A aula de Historia da Literatura correu como normal, a lermos e a interpertarmos textos, o Salgado a contar-nos histórias sobre os autores (porque conheceu alguns) e com as suas saídas estranhas mas muito engraçadas, na maior parte dos casos. No intervalo fomos comer a nossa habitual tostada (vario entre xamón serrano, ovos revoltos ou de tomate, mas acho que estou rendida ao tomate!!). Juntaram-se a nós a Aleksandra e a Sara, da nossa turma. De seguida fui à biblioteca, onde já tinha estado na terça durante a tarde com a Patrícia (da nossa turma, mexicana a viver em Ourense) para consultar a bibliografia para Historia da Lingua. Saí de lá mais confusa do que tinha entrado, porque li demasiadas coisas para o que caberá no trabalho. Ao meio-dia, antes, tivemos um encontro com membros da Fundação Rosalía de Castro para falar de um projecto multilingüe em redor de Rosalía. Um colectivo de bruxelas, que reúne poetas de várias nacionalidades - mas a viver ali

10 de Xullo

Querido Diário: Por sugestão, no dia anterior durante uma caña, do Daniel Amarelo (professor de práticas de um dos níveis elementares) e do ILGA, combinámos ir a Rianxo à tarde. Estava muito calor em Compostela e ainda não tínhamos ido à praia. Tinha pensado ir a Vilanova de Arousa, mas na verdade confundi-me porque o comboio que tínhamos apanhado para Padrón ia para Vilagarcía e não para Vilanova, pelo que ficaria ainda longe ir para a praia. De qualquer forma, o Daniel tinha-nos proposto visitar Rianxo, terra governada pela esquerda e onde nasceu o Castelao, que ficava mais perto de autocarro e que também tinha praia. Metemo-nos ao caminho no final da aula, porque o autocarro saia às 13h15 da central de camionagem. A partida foi atribulada, porque a Rocío deixou o telemóvel dela sem querer no banco onde estava sentada antes de subirmos. Acontece que dois dias antes tínhamos estado eu, ela, a Alba e a Berta numa esplanada de um café incrível, que pelos vistos é um h

9 de Xullo

Querido Diário: Primeira aula de Historia da Literatura: o professor Xosé Salgado é um prato. O contraste com o estilo do Mariño foi imediato. Usa muitos castelanismos e tem uma muleta que se tornou já uma espécie de grito de guerra para nós: BUENO. Escrevo em caps lock porque ele fala bastante alto e esta muleta mais alto do que o resto do discurso. Fez uma selecção de textos para nós e começou por um da Rosalía. A Xustiza pola man. Já o tinha lido na aula de galego em Braga, mas a interpretação dele foi muito diferente daquela que fizemos. Aliás, não muito diferente: mas aquilo que é possível logo entender das primeiras estrofes, o Salgado achou que podia ser interpretado de outras formas. Isto depois de se declarar logo no início da aula "não rosaliano". Na verdade, com o tempo fomos percebendo que os seus ligeiros laivos machistas não podiam, de facto, ser conciliados com a coragem feminista dela. Mesmo assim, a aula foi boa, e valeu-nos boas risadas ao i

8 de Xullo

Querido diário: Começámos a semana com a última aula de Historia da Lingua. Confesso que queria ter tido mais semanas inteiras! O professor terminou a matéria justo no final que tinha previsto, e deixámos esta parte para trás - embora ainda tivéssemos o trabalho para fazer e entregar no dia 15 até à meia-noite. No final, tivemos meia hora de pausa e ao meio dia a segunda conferência do curso (a primeira foi na RAG na Coruña), mas desta vez com o Antón Reixa!! Quando percebi que era do grupo Resentidos, que tenho vindo a ouvir durante meses a fio, ia-me dando um colapso. Até levei a mão ao coração e ele riu-se. Isto porque o nosso grupinho maravilha ficou sentado na fila da frente porque...chegámos atrasados, ou melhor, mesmo no fim de toda a gente já se ter sentado. A conferência foi em torno da produção audiovisual (o Reixa, para além de músico, poeta, letrista e ensaísta é também produtor de cinema!!) e foi bastante interessante. Num tom calmo e sem grandes alaridos. Ao

6 e 7 de Xullo

Querido Diário: As meninas combinaram ir às termas a Ourense. A Alba foi lá passar o fim-de-semana, a Berta sugeriu ao Juliano lá ir, e a Tânia, a Rocío e a Celeste juntaram-se e foram lá ter de camioneta. Eu e o AC preferimos não gastar esses pontos, já que Ourense fica perto para irmos noutra altura, quando estivermos de volta a Braga.  Preferimos, antes, tirar a tarde para ir a Padrón visitar a Casa Museo da Rosalía de Castro. Apanhámos o comboio na estação e demorámos apenas uns 15 minutos a chegar lá. Como é lógico, esta história da viagem não podia ser livre de aventuras, e depois de ter gabado muito a entrada para as carruagens por não terem escadas e ficarem ao nível do apeadeiro na estação de Compostela, já não pensei o mesmo ao chegar ao apeadeiro de Padrón. Parecia que estávamos a chegar a Ruilhe, só que com uma distância muito, muito maior da plataforma de saída até ao chão. Fiquei à espera que aquilo descesse, um pouco em pânico, e tive medo de colocar lá o

5 de Xullo (pola noite)

Querido Diário: Menti sobre a sexta-feira, mas não deliberadamente! É que a memória tem mesmo destes brancos! Estivemos sim na residência a descansar, mas fomos sair à noite. O AC foi mais cedo, e por isso começou mais cedo a fazer o rally das tascas versão Compos. Como tínhamos almoçado tarde, não fiz nada para jantar e acreditei que as tapas servidas com as cañas seriam suficientes. Combinei encontrar-me com a Alba em frente à Faculdade de Xeografía e Historia e daí fomos ter com o AC, que depois de ir à Xentalla beber uma Super Bock e comer uma fatia de empanada de atum encontrou um outro bar que foi o mais difícil de encontrar até hoje. Eu e a Alba andámos mais do que era necessário porque o meu GPS acusava a bola azul do nosso trajecto com um delay extraordinário, pelo que quase saímos do casco velho em direcção à Porta do Camiño quando percebi que alguma coisa não batia certo. Depois, quase fomos atropeladas por um contentor do lixo que se soltou e desceu a rua. Con

5 de Xullo

Querido Diário: A sexta-feira foi bastante calma e tranquila. Tivemos aula até às 11h30 e o resto do dia livre. Eu e o AC voltámos para a residência. Lembro-me de tirar uma sesta mas não me lembro bem do que fiz mais. No entanto, lembrei-me que no dia anterior, ao vir da excursão, como apanhámos um autocarro que não pára no mesmo sítio de onde parte (e que fica mesmo em frente à Faculdade de Jornalismo, que por sua vez fica por trás da residência), acabámos por aproveitar por ir fazer umas compras ao Día, depois de no primeiro dia termos ido ao Gadiz, outro supermercado aqui da zona. Entretanto ainda não voltei lá, mas o AC vai lá algumas vezes. Tem sido super homem da casa, pai total, o que é mesmo fixe. Cozinha muitas vezes e salva-me muito a vida. Mas eu lavo a loiça. Alguma!! De resto, os dias vão passando entre tapas e mais tapas. Nunca pensei vir a dizer isto: mas a ideia de tortilla já não me faz babar de vontade de comer, mas sim salivar já de enjoo! É tortilla

4 de Xullo

Querido diário: Na quinta-feira a aula foi um pouco mais descontraída do que a primeira. Não te expliquei ontem, mas o professor Mariño é bastante tímido, pelo que a primeira aula foi um pouco tensa: todos calados a ouvi-lo com muita atenção e já está. Não que tenhamos deixado de prestar atenção: a verdade é que as aulas estavam tão bem organizadas e encadeadas que não davam lugar a dispersão. Mas já havia um maior à vontade entre o professor e nós - e entre nós também já havia mais confiança, pelo que acho que acabou por correr melhor. Esta aula começou mais cedo para podermos sair em excursão até à Corunha. O programa do dia passava por uma conferência - a primeira do curso - na Real Academia Galega, com o seu presidente. Já o tínhamos conhecido na sessão de abertura, mas desta vez fez uma espécie de viagem pela história da instituição e também da língua. Foi bom conseguir acompanhar perfeitamente os seus reparos depois das aulas com o professor Mariño. Não gostei especi

3 de Xullo

Querido Diário: Quarta, dia 3, começaram as aulas. Afixaram na entrada da Faculdade de Filosofia, na Praza de Mazarelos, uma lista com os nossos nomes e o nivel que nos tinha sido atribuído. Fiquei bastante confusa porque achei, primeiro, que estava por ordem alfabética e, como somos três Bárbaras no curso, estava à procura do meu nome na primeira folha, junto a uma outra! Foi o AC que encontrou primeiro o meu nome, na última folha, porque fiquei colocada, para meu espanto mas também para minha felicidade, no nível superior. Os níveis elementar e médio são para ensino da língua propriamente dita - à semelhança do que fizemos em Braga - embora depois separem esses dois níveis em dois grupos cada um, de acordo com a preparação dos alunos. No nível superior as aulas já são diferentes: de história da língua e história da literatura. Já tinha visto que havia esta diferença quando conheci o programa, antes de vir, e tinha mesmo muita vontade de ter estas aulas em vez das outras;

2 de Xulho

Querido Diário em flashback, Como não tenho carro nem carta e o AC não tem carro há uns anos, o F veio-nos trazer a Compostela. A R fazia anos no dia um, por isso sair de Braga no autocarro das 17h00 era demasiado cedo, para além de que sempre é mais cómodo trazer a tralha toda num carro do que depender de camionetas e estações de camionagem. Saímos às seis da manhã - assim o F podia regressar sem ser de noite e rumámos à Galiza. Não consegui trazer apenas o essencial, pelo que trouxe duas malas grandes com roupa, calçado, produtos de higiene e outros que tais, a mochila com o computador, a mochila com as minhas coisas e ainda um saco com mais tralha, entre coisas para a cozinha e o meu secador de cabelo (que já não cabia em nenhuma das malas). Ainda me consigo rir ao recordar a cara do meu pai, que se levantou de propósito para me ajudar a levar uma das malas para baixo, quando percebeu o peso imenso que ali carregava. Parece-me óbvio que não viajar para fora durante anos

Querido Diário

Fica claro que o jeito para registar, diariamente, os meus dias, não me vai de afeição. Como desculpa, tenho o facto de ter chegado a Santiago de Compostela no dia dois (na terça-feira da outra semana), e ter conseguido só hoje ligar o computador e sentar-me a tratar assuntos pendentes. Não que isto tenha exigido grande sacrifício da minha parte: devo confessar que ficar sem grande ligação ao meu mundo costumeiro me tem feito um bem tremendo, e que dedicar-me à minha rotina aqui me tem trazido tanto prazer, que pouca falta sinto de a ligar à minha vida-de-todos-os-outros-dias. Mas também é verdade que não quero deixar de registar o que me vai acontecendo, mais para não me esquecer ou poder confirmar determinadas memórias mais tarde. No entanto, visto que já passou mais de uma semana, não me parece que consiga aqui descrever em pormenor, de uma rajada só, tudo o que tem sido desde que decidi imaginar que podia vir a estar aqui. Ou tão só tentar contar como tem sido estar, de fa

O antes

Quando era pequena, costumava ir de férias com os meus pais sempre para Sanxenxo. Depois de Caminha, Vila Praia de Âncora ou Amorosa, explicou-me a minha mãe, pudémos aventurar-nos um pouco mais longe de Braga e experimentar as rías baixas. Tenho as melhores memórias desse tempo e das rotinas que criámos ali. Tenho esta particularidade com que por vezes me debato: viver entre várias alturas e tempos sem saber exactamente onde começam uns e terminam outros. Vivo com uma enorme nostalgia tanto daquilo que vivi em criança e até em adolescente, como daquilo que ainda não vivi e, provavelmente, nunca experimentarei. Sinto que passo a maior parte do meu tempo num limbo que toca todas as fases da minha vida e onde consigo, ainda, entrever a vida dos meus antepassados ou das interrogações do futuro. Não que não me dê bem com o presente: temos uma relaçao afável, ainda que com algumas discussões, e não posso deixar de admitir que lhe atiro por vezes à cara o quão melhor foi nalguma altura